Olá! Esta tradução é de minha autoria,
realizada a partir de um trecho de um livro em domínio público.
Espero que gostem!
Lewis Carroll
Tradução: Olívia Almeida
Capítulo 1 – Na toca do coelho
Alice começava a se cansar de estar ali sentada com sua irmã na beira do rio, sem ter nada para fazer. Ela passou o olho no livro que sua irmã estava lendo, mas não havia desenhos e nem diálogos.
— Para que serve um livro sem desenhos e sem diálogos? pensou Alice.
Assim, estava pensando (e pensar lhe custava certo esforço, porque o calor do dia deixou-a sonolenta e atordoada) se o prazer de tecer uma grinalda de margaridas compensaria o trabalho de levantar-se e pegá-las, quando logo pulou perto dela um Coelho Branco de olhos rosados.
Não havia nada muito extraordinário nisso, e nem pareceu muito estranho para Alice ouvir o Coelho dizendo para si mesmo: “Meu Deus! Meu Deus! Vou chegar tarde!” (Mais tarde, quando pensou sobre isso, decidiu que deveria tê-la surpreendido e muito, mas que, naquele momento, pareceu a coisa mais normal do mundo). Mas quando o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, olhou e começou a correr, Alice deu um pulo, porque compreendeu, de repente, que ela nunca havia visto um coelho com colete, nem com um relógio que tirara dele e, louca de curiosidade, começou a persegui-lo pelo campo e chegou bem a tempo de vê-lo pulando para uma toca perto da cerca viva.
Um pouco mais tarde, Alice também entrava na toca sem pensar como faria para sair depois.
De início, a toca do Coelho se estendia em linha reta como um túnel e depois virou bruscamente para baixo, tão bruscamente que Alice não teve nem tempo para pensar em parar e se viu caindo no que parecia ser um poço muito profundo. Ou o buraco era realmente muito profundo, ou ela caía muito devagar, porque Alice, enquanto descia, teve tempo de sobra para olhar ao seu redor e perguntar-se o que iria acontecer depois. Primeiro, tentou olhar para baixo e ver onde iria parar, mas estava tudo muito escuro para ver algo. Depois, olhou para as paredes do buraco e observou que estavam cobertas de armários e estantes de livros: aqui e lá, ela via mapas e quadros fixados com pregos.
Enquanto caminhava, pegou nas prateleiras um pote de vidro que levava uma etiqueta em que se lia: GELEIA DE LARANJA, mas viu, com tristeza, que estava vazio. Não lhe pareceu por bem atirá-lo ao fundo, por medo de matar alguém que estivesse andando lá embaixo, e conseguiu deixá-lo em outra prateleira enquanto continuava descendo.
“Uau!” pensou Alice. “Depois de uma queda como essa, rolar escada abaixo não será nada de mais! Todos me acharão corajosa! Eu nem sequer choraria, mesmo que caísse no telhado!”. (E era verdade). Caindo, caindo , caindo. Será que não tem fim?
— Gostaria de saber quantos quilômetros eu já desci – disse em voz alta.
— Tenho que estar bastante perto do centro da terra. Vejamos, devo estar a 6 mil quilômetros de profundidade.
Como podem ver, Alice teria aprendido algumas coisas nas aulas da escola e, embora não fosse um momento muito oportuno para se gabar de seus conhecimentos, já que não havia ninguém ali que pudesse escutá-la, pareceu que a repetição serviu de revisão.
— Sim, essa deve ser a distância…, mas pergunto-me à qual latitude e longitude terei chegado.
Alice não teria a menor ideia do que era latitude e nem longitude, mas parecia certo dizer umas palavras tão bonitas e incríveis como estas. Em seguida, recomeçou.
— Talvez caia através de toda a terra! Que divertido seria chegar aonde vive esta
gente que anda de cabeça para baixo! Os antipáticos, eu creio… (agora Alice se alegrou de que não houvesse ninguém escutando, porque essa palavra não soou muito bem). Mas então terei que perguntar a eles o nome do país.
— Por favor, madame, estamos na Nova Zelândia? Ou na Austrália?
E, ao dizer essas palavras, ensaiou uma reverência, enquanto caía pelo ar! Você acredita que isso é possível?
— E que criatura ignorante eu vou parecer! Não, melhor será eu não perguntar nada. Verei escrito em alguma parte.
Caindo, caindo, caindo. Não havia outra coisa a fazer e, em seguida, Alice começou a falar outra vez.
— Diná sentirá muito a minha falta essa noite! (Diná era a gata). Espero que se lembrem de seu leite na hora do chá. Diná, querida, eu gostaria que você estivesse comigo aqui embaixo! No ar, não há ratos, claro, mas poderia caçar algum morcego; eles se parecem muito com os ratos, sabe? Mas me pergunto: os gatos irão comer morcegos?
Ao chegar neste ponto, Alice começou a se sentir meio adormecida e seguiu dizendo, como se estivesse em um sonho: os gatos comem morcegos? Os gatos comem morcegos? E, às vezes, os morcegos comem gatos? Porque, como não sabia a resposta de nenhuma das perguntas, não importava muito quais delas eram feitas. Estava dormindo de verdade e começava a sonhar que passeava com a Diná e que lhe perguntava com muita ansiedade: Agora, Diná, diz-me a verdade; alguma vez você comeu um morcego? Quando, de repente, cataplum! Caiu em cima de um monte de galhos e folhas secas. A queda havia terminado.
Alice não se machucou e se levantou com um pulo. Olhou para cima, mas tudo estava escuro. Diante dela, havia outro longo caminho, de onde surgiu o Coelho Branco, que se afastava com muita pressa. Não poderia perder esse momento, e Alice, sem hesitar, correu como o vento, e chegou a tempo de ouvi-lo dizer, enquanto dobrava uma curva: ¾ Ó, minhas orelhas e bigodes, está ficando tarde!
Ela estava bem atrás dele mas, quando virou a curva, não viu o Coelho em parte alguma. Alice encontrou um corredor longo e baixo, iluminado por uma fileira de lâmpadas penduradas no teto.
Havia portas ao redor de todo saguão, mas todas estavam fechadas com chave e,
quando Alice deu a volta, descendo por um lado e subindo por outro, tentando de porta em porta, caminhou tristemente até o centro da sala, imaginando como faria para sair dali.