Olá! Esta tradução é de minha autoria,
realizada a partir de um trecho de um livro em domínio público.
Espero que gostem!
Agatha Christie
Tradução: Olívia Almeida
Poirot recebe a visita de Mary Marvell, a famosa estrela de cinema belga, que se encontra em visita a Londres. A atriz recebeu três cartas de um cidadão chinês, exigindo a devolução de seu magnífico diamante, o “Estrela do Oeste”, ao lugar ao qual supostamente pertence (o olho esquerdo de um ídolo), antes da próxima lua cheia. Seu marido, Gregory Rolf, foi quem comprou a joia de um chinês em São Francisco, e ofereceu-lhe há três anos como presente de casamento. O casal vai aparecer em Yardly Chase, o lar de Lord e Lady Yardly, poucos dias antes da lua cheia, para discutir a rodagem do filme naquela casa, e Mary está decidida a ver o diamante. Tanto Poirot como Hastings lembram-se do rumor de anos atrás que se relacionava a Rolf Lady Yardly. Os Yardly possuem um diamante idêntico, o “Estrela do Oeste”. Depois de Mary sair, Poirot também sai e Hastings recebe a visita de Lady Yardly, deduzindo que ela também recebeu as cartas ameaçadoras para que devolva a joia (ao olho direito do citado ídolo). Lord Yardly planeja vender seu diamante devido às dívidas que contraiu e, quando Poirot descobre, marca uma visita a Yardly Chase. Uma vez lá, as luzes se apagam, Lady Yardly é atacada por um homem chinês e sua joia é roubada. No dia seguinte, a joia de Mary também é roubada em seu hotel em Londres. Poirot realiza suas investigações e devolve aos Yardly a sua joia.
Eu estava diante de umas janelas da residência de Hércules Poirot, contemplando a rua.
— É extremamente curioso — disse, de repente, segurando a respiração.
— O que, mon ami? — perguntou Poirot, calmamente das profundezas de sua confortável poltrona.
— Poirot, quero ver a dedução dos seguintes fatos! Aqui veio uma jovem elegante, bem vestida… chapéu de última moda e magníficas peles. Aproxima-se lentamente, olhando todas as casas ao passar. Sem que ela se dê conta, vai sendo seguida por três homens e uma mulher de meia-idade. Nesse momento, acaba de se unir a eles um menino desses que dão recados e que aponta com o dedo ao mesmo tempo em que gesticula. Que drama estão tramando? Por acaso ela é uma delinquente e seus seguidores, detetives dispostos a detê-la? Ou são uns canalhas a ponto de atacar uma vítima inocente? O que disse nosso detetive?
— O grande detetive, mon ami, escolhe sempre o caminho mais fácil. Veja por si mesmo — e meu amigo veio para se reunir comigo junto à janela. Depois de um minuto, ele riu radiante.
— Como de costume, você se deixou levar por seu romantismo incurável. Essa é a senhorita Mary Marvell, a estrela do cinema, que está sendo seguida por enxame de admiradores que a reconheceram. E en passant, meu querido Hastings, ela percebe isso perfeitamente!
Eu comecei a rir.
— Está tudo explicado! Mas não há prova disso, Poirot. Foi apenas resultado da identificação da “estrela”.
— En vérité! E quantas vezes você viu a Mary Marvell na tela, mon cher?
Eu refleti.
— Uma meia dúzia de vezes.
— Eu… uma! No entanto, à primeira vista a reconheço e você não.
— Está tão diferente… — respondi com voz fraca.
— Ah! Sacré! — exclamou Poirot —. É que esperava vê-la passeando pelas ruas de Londres com um chapéu de cowboy, ou descalça e com muitos cachos nos cabelos, como uma colegial irlandesa? É preciso sempre prestar atenção ao essencial! Lembro-me do caso da bailarina Valerie Saintclair.
Fiquei indiferente, ligeiramente irritado.
— Mas console-se, meu amigo — disse Poirot, acalmando-se —. Nem todos podem ser como Hércules Poirot! Eu sei muito bem.
— A verdade é que não conheço outra pessoa que tenha a melhor opinião de si mesma! — respondi entre divertido e contrariado.
— E por que não? Quando se é o único, sabe! E outros compartilham esta opinião… até a senhorita Mary Marvell, se não me engano.
— O quê?
— Sem dúvida alguma. Ela está vindo aqui.
— Como você sabe?
— É muito simples. Essa rua não é aristocrática, mon ami! Não há nela nem médico e nem dentista… e muito menos um cabeleireiro de famosos. Mas um detetive de última moda. Oui, meu amigo, é verdade… estou na moda, sou le dernier cri! Uns disseram a outros: Comment? Você perdeu sua caneta dourada? Deve recorrer ao belga. É maravilhoso! Todo mundo recorre a ele. Courez! E vêm! As pessoas, mon ami! Com os problemas mais bestas! — tocou a campainha — O que eu lhe disse? Essa é a senhorita Marvell.
E, como de costume, Poirot tinha razão. Após um curto intervalo, a estrela do cinema americano foi introduzida na sala e nós dois ficamos em pé.
Mary Marvell era, sem dúvida, uma popular artista de cinema. Tinha chegado havia pouco tempo à Inglaterra, acompanhada de seu marido Gregory R. Rolf, também ator de cinema. Seu casamento foi realizado um ano atrás nos Estados Unidos e aquela era a sua primeira visita à Inglaterra. Eles lhe ofereceram uma grande recepção. Todo mundo ficou louco por Mary Marvell, suas maravilhosas roupas, suas peles, suas joias e, entre todas essas, por um grande diamante apelidado para combinar com sua dona. “Estrela do Oeste”. Muito tinha sido escrito sobre essa joia… verdades e mentiras… e dizia-se que estava assegurada pela enorme cifra de cinquenta mil libras.
Miss Marvell era pequena e esbelta, muito loira e juvenil, com os olhos azuis grandes e inocentes.
Poirot puxou uma cadeira e ela começou a falar em seguida.
— Provavelmente você me considera uma idiota, monsieur Poirot, mas o Lord Cronshaw disse-me ontem à noite como esclareceu o mistério da morte de seu sobrinho e eu quis saber a sua opinião. Talvez, seja uma brincadeira sem graça, disse Gregory… mas eu estou muito preocupada.
Ela parou para respirar e Poirot encorajou-a a continuar.